16 de fevereiro de 2013

Peripércias rumo à Ilha do Mel


Às 5h da matina toca meu despertador. Eu tinha que organizar tudo na mochila, desmontar a barraca e estar junto ao píer às 6h20. Desliguei o despertador, abri a porta da barraca: ainda era noite fechada. Olhei para o céu e fui presenteada com um dos céus mais lindos e estrelados que já vi. Mais uma vez agradeci à mim mesma por me ter levado, com meus próprios pés, até ali (mas dei uma agradecida também para o São Pedro lá em cima, por ter tirado as nuvens do céu e me permitido ver aquele zilhão de estrelas). Minha vontade era colocar o isolante térmico para fora da barraca, deitar na areia e ficar curtindo o céu estrelado, mas eu tinha horário marcado: o barqueiro tinha me dito “até te levo, mas tu tem que estar aqui, pronta, às 06h25” Eu respondi dizendo que às 6h20 estaria lá.


Indo pegar o barco, aos primeiros sinais de luminosidade

Eu tinha previsto que demoraria um pouco acima do normal para arrumar tudo, por que tinham dois fatores complicantes: o fato de que era de noite e eu teria que fazer tudo só com uma lanterna e porque a barraca estava ainda bem molhada e cheia de areia por dentro e por fora. Mas, com um tempo absurdamente bem calculado, sem sobrar nem faltar tempo, às 6h17 eu estava no local combinado com o barqueiro.
Caminhei pela praia do meu camping até o píer e estava começando a surgir os primeiros sinais de luminosidade no horizonte. Apesar do horário já se podia ver, caminhando pela praia, alguns pescadores que começavam a preparar os barcos para mais uma rotina diária. Era escuro ainda, não dava para identificar os rostos mas, cerimoniosamente, todos que passaram por mim me fizeram um sinal com a cabeça quase desejando “boa viagem, volte logo” ou pelo menos foi assim que eu interpretei.

Com apenas alguns minutos de atraso saímos eu e o barqueiro em direção à Ilha do Mel. Nessa hora a luminosidade tinha aumentando e apesar de o sol ainda não ter aparecido, a água estava coberta de uma cor dourada difícil explicar. O barco era uma “voadeira” que navegava rápido, picando em cada onda. Eu estava feliz e triste ao mesmo tempo. Não queria ter ido embora de Superagui, mas era preciso seguir para um novo destino. Estava justamente pensando nisso, que a viagem sempre precisava prosseguir, quando um boto apareceu a cerca de 20m do barco e depois mais outros. Talvez fosse um sinal, ou apenas mais um feliz capricho da natureza. Andando rápido sobre as águas em cerca de 20 minutos eu estava na Ilha do Mel.

Desembarcando na Ilha do Mel

Aguardando o Sol Nascer na Ilha do Mel

O combinado é que o barqueiro me deixaria no Forte. Eu pouco sabia sobre a geografia da ilha, mas disse que não importava, o que importava era estar na Ilha, lá eu me virava.
Junto ao forte havia algumas poucas casas, todas fechadas já que não era ainda 7h. Sentei por ali e fiquei aguardando o sol nascer e aparecer alguém para eu descobrir como chegar até a praia do Farol ou Brasília. Esperei o sol nascer simplesmente observando e curtindo o momento (quantas vezes no dia-a-dia vemos o sol nascer?) e depois fui em busca de alguém que pudesse me dar informações. Em uma pousada que estava começando a se preparar para o café da manhã descobri a informação que precisava e ainda descolei uns pães caseiros para o café da manhã.
Mas a informação que eu precisava era a pior possível, eu precisaria caminhar 4km até o “centrinho” da ilha onde ficavam os campings. Isso definitivamente não seria um problema não fossem 4 fatores: a sola dos meus pés estavam machucadas e extremamente sensíveis, meu dedo do pé continuava machucado e doendo sempre que eu caminhava, a mochila estava muito pesada (para mim) e o pior de tudo, devido ao fato de eu estar “magra demais” a barrigueira da mochila, mesmo no mínimo do ajuste ficava solta, fazendo com que todo o peso fique praticamente só nos ombros (daí é foda!). Quando eu coloquei a mochila lá em Porto Alegre antes de sair de casa percebi que isso seria um problema que eu enfrentaria ao longo dessa viagem, só não sabia quando, até agora.

Sabia que essa caminhada de 4km seria exaustiva. Olhei para meu destino no final da praia e dividi a caminhada em quatro partes com 3 momentos de parada e descanso. Cheguei na primeira “meta” com costas e pés doendo. Sentei em um saco de areia que tinha na beira da praia tirei a mochila a papete e aliviei os pés no mar. A sola dos pés ardia inteira e o geladinho do mar dava um conforto gostoso, ainda que temporário. Alonguei as costas e quando fui colocar de novo a mochila, logo ali do meu lado, na sombra, debaixo de um trapiche, um bicho marrom se mexeu, rapidamente pensei ser um cachorro, mas olhei com mais cuidado e era um lobo marinho! Isso mesmo, um lobo marinho na Ilha do Mel! Estava logo ao meu lado e ficava olhando meus movimentos. Era um filhote, estava com o pelo todo machucado e provavelmente estava ali há dias. Sentei do lado dele e conversei um pouco. Ele ficava me olhando com cara de cachorro pidão. Mas não tinha muito o que eu pudesse fazer por ele. Disse que ia embora, me levantei e fui colocar o calçado e a mochila. De repente, quando olho de novo, ele estava em pé (de quatro, digamos) descendo do lugar que ele estava até a areia da praia. Pensei que pelo menos ele não estava tão mal assim. Falei que eu realmente precisava ir embora . Ele ficou me olhando e eu fui, segui pela praia, afinal ainda tinha alguns kms para caminhar e o sol estava cada vez mais forte.



Sem mais tantas peripércias cheguei  à praia do farol cansada a dolorida, mas viva! No final ainda acabei indo acampar na vila Brasília e encarei mais uma caminhadinha de 1km que não tava prevista. Acabei optando pelo camping Billly Mar, onde fui extremamente bem recebida.  O camping é simples, apenas um terreno junto à casa do seu Pedro, mas tem banheiros ótimos, limpos e uma cozinha ótima também. Não vou ter a regalia de estar de frente para a praia, mas vou ter o conforto de uma cozinha com mesa onde posso ficar à vontade e trabalhar.
Passei o resto da manhã tentando secar e tirar a areia da barraca e de TODAS as minhas coisas. Tinha areia por tudo! Eu tentei tirar o máximo que pude. Mas a verdade é que ainda tem areia! Tenho a impressão de que sempre terá areia, ela parece ter um apego especial por mim, nunca me abandona. Enfim, estendi as roupas molhadas em função da tempestade de ontem e coloquei, de novo, mais uma vez, novamente, o meu tênis para secar.

Depois passei praticamente toda a tarde sentada em um restaurante na praia, em uma espécie de quiosque de frente para o mar. Sentindo o vento e trabalhando com textos no computador, já que pelo temporal de ontem toda ilha está sem internet. Apesar da falta de internet, foi o melhor escritório que já trabalhei até hoje. No final do dia, para seguir à tradição veio mais um temporal. Esse foi forte, mas rápido.



Um comentário:

  1. Lu!!
    Li toooodos os posts dessa sua aventura!!

    E caramba.. eu não sabia que tu não sabia da geografia da Ilha!! Porque não perguntou, doidinha!!

    Mande notícias.. e se estiver em Nova Brasília, vá almoçar na Pousadinha.
    :)
    Um atendimento super legal, comida boa e tem internet.. Foi lá que me hospedei as duas vezes que fui.

    Semana que vem ficaremos em Encantadas.

    Beijos!!

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